O Dharma quando se encontra um Instrutor Sênior que passou por cinco angôs[1].
(Taitaiko Gogejarihô)
de “Eihei Shingi” – “Regras Puras para a Comunidade Zen”
Dogen Zenji
1- Quando encontrar um instrutor sênior que tenha passado por cinco angôs, você deve vestir seu okesa e trazer o seu zagu[2].
2- Não use o okesa cobrindo os dois ombros. Um sutra diz: “Quando monges encontram Buddha, ou outros monges ou seniores, eles não devem usar o okesa sobre os dois ombros. [Se eles o fizerem], quando morrerem, eles entrarão no Inferno dos Grilhões de Ferro”[3].
3- Não se apresente em pé olhando para um sênior, enquanto estiver encostado em alguma coisa com suas pernas cruzadas.
4- Não se apresente em pé olhando para um sênior com seus braços balançando.[4]
5- Nunca ria ruidosamente, sem envergonhar-se ou causar constrangimentos.
6- Apresente-se de acordo com o “Dharma do Servir ao seu Mestre.”[5]
7- Se você é admoestado, faça uma reverência polidamente e ouça e aceite; e, de acordo com o Dharma, contemple e reflita sobre o que foi dito.
8- Sempre estimule uma mente humilde.
9- Não se coce ou cate piolhos enquanto estiver com um sênior.
10- Não cuspa na frente de um sênior.
11- Não mastigue seu palito de dentes [yôji] ou enxágüe sua boca enquanto estiver frente a um sênior.
12- Se o sênior não lhe convidou a se sentar [quando você estiver entre eles], não se sente informalmente.
13- Quando sentado na mesma plataforma, ao lado de um sênior de cinco angôs, não o toque [acidentalmente]
14- Não se sente no lugar onde um sênior de cinco angôs normalmente se senta ou descansa.
15- Você deve saber que qualquer um que tenha feito cinco ou mais angôs, tem a posição de ajari [instrutor]; alguém que tenha dez angôs ou mais, tem a posição de oshô [alto sacerdote]. Isto não é nada além um suave orvalho do dharma sem máculas.
16- Quando uma respeitável pessoa de cinco angôs pedir para você sentar, faça gasshô e reverência; só então se sente. Cortesmente sente-se ereto e não encoste na parede.
17- Quando se sentar, não seja rude ou indulgente, recostando-se em algum móvel.
18- Se houver discussão você deve permanecer humilde e não tentar ganhar uma posição superior.
19- Não abra sua boca demasiado enquanto estiver bocejando; mas, cubra-a com sua mão.
20- Quando estiver diante de um sênior, não esfregue sua face, bata em sua cabeça com suas mãos, ou brinque com suas pernas ou braços.
21- Diante de um sênior não faça grandes barulhos de resfolegar ou suspiros. Comporte-se com decoro, de acordo com o Dharma.
22- Quando estiver diante de um sênior, mantenha seu corpo ereto e estável.
23- Se você vir um sênior chegando ao lugar onde você se encontra conversando com outro sênior; dê a eles o seu assento, abaixe a sua cabeça e aguarde por um momento pelas instruções dos seniores.
24- Quando você estiver do outro lado da parede do aposento de um sênior, não recite as escrituras em voz alta.[6]
25- A menos que um sênior lhe peça para faze-lo; não explique o dharma para as pessoas.
26- Se um sênior lhe perguntar algo, você deve dar a resposta apropriada.
27- Sempre observe a expressão de um sênior e não lhe cause desapontamento ou angústia séria.
28- Enquanto estiver diante de um sênior, não troque mesuras com seus pares.
29- Diante de um sênior não aceite prostrações de outros
30- Se houver algum trabalho pesado a fazer, onde esteja um sênior, faça-o, primeiro, você mesmo. Quando há alguma coisa agradável, ofereça-a ao sênior.
31- Se você se encontrar com um instrutor sênior que tenha passado por treinamento em cinco angôs, você deverá reverenciá-lo como um ancião. Não perca seu entusiasmo.
32- Se você tiver intimidade com um sênior que tenha feito cinco ou dez angôs, você deve, mesmo assim, perguntar a eles sobre o significado dos sutras e dos preceitos. Não se torne negligente ou preguiçoso.
33- Quando você percebe que um sênior está doente, você deve, respeitosamente, alimentá-lo e ajudá-lo a se recuperar de acordo com o dharma.
34- Quando você estiver diante de um sênior ou perto de seu quarto, não pronuncie palavras que não sejam benéficas ou que não tenham bom significado.
35- Quando diante de um sênior não discuta pontos bons e maus ou a força e fraqueza de honoráveis mestres de outros templos[7].
36- Você não deve ignorar um sênior e entrar numa conversa ou questionamento sem propósito.
37- Não raspe sua cabeça, corte suas unhas, ou troque suas roupas de baixo quando na presença de um sênior.
38- Quando um sênior ainda não estiver adormecido, não vá dormir antes dele.
39- Quando um sênior ainda não começou a comer, não coma antes dele.
40- Quando um sênior ainda não tomou banho, não se banhe antes dele.
41- Quando um sênior ainda não se sentou, não se sente antes dele.
42- Se você encontrar um senior no caminho, reverencie-o com inclinação do corpo e, então, siga atrás do sênior. Se você receber alguma instrução do sênior, simplesmente obedeça-o e então retorne [ao que você estava indo fazer]
43-Se você perceber que um sênior esqueceu alguma coisa por engano, mostre-lhe cortesmente.
44- Se você vir um sênior cometendo algum erro, não ria ruidosamente.
45- Se você visitar o quarto de um sênior, primeiro estale os seus dedos (médio e polegar) três vezes no lado de fora da porta, antes de entrar.
46- Se você entrar no quarto de um sênior, entre beirando um lado do vão da porta. Não entre pelo centro do espaço da porta[8].
47- Quando você entrar ou sair do quarto de um sênior, tanto de cinco, como de dez angôs, você deve usar a escada de convidados, não a escada do anfitrião.[9]
48- Se um senior ainda não tiver terminado de comer sua refeição, não termine a sua antes dele.
49- Quando um sênior ainda não se puser em pé, não se levante antes dele.
50- Se um sênior estiver explicando os sutras para um doador, sente-se adequadamente ereto e ouça-o cuidadosamente. Não se levante rapidamente e saia. [10]
51- Não repreenda alguém que você pretende repreender, enquanto estiver diante de um sênior.
52- Diante de um sênior, não chame ninguém à distância em voz alta.
53- Não desate o seu okesa, deposite-o no quarto do sênior e, então, saia.
55- Quando um sênior estiver ensinando sobre um sutra, não corrija seus enganos desde um assento inferior.
55- Diante de um sênior não levante seus joelhos e os envolva com seus braços.
56- Quando um sênior estiver em um lugar inferior e você estiver num lugar mais alto, vocês não devem se curvar um para o outro.
57- Não faça reverência para um sênior desde o alto de seu assento.
58- Quando você estiver em seu lugar e vir um sênior em pé embaixo , não o reverencie em shashu.[11]
59- Você deve estar atento quando um professor sênior estiver presente.
60- Quando o discípulo de um sênior estiver presente, esteja atento sobre suas maneiras para com o professor e não perturbe o sênior.
61- Quando um sênior se encontra junto com um sênior, nenhum deles precisa seguir estas instruções (de encontro com um sênior).
62- Ver seniores é infindável. Na primeira prática de verão nós vemos seniores; no momento da suprema realização[12], nós vemos seniores.
O dharma anterior para encontros com sêniors de cinco ou dez angôs, é exatamente o corpo e a mente dos buddhas e ancestrais. Não deixe de estudar isto. Se você não estudar isto, o Caminho dos mestres ancestrais degenerará e o doce orvalho do dharma será extinto. No vasto céu do reino do dharma, isto é raro e difícil de encontrar. Somente pessoas que desenvolveram faculdades saudáveis através de vidas passadas podem ouvir isto. Em verdade este é o último degrau do Mahayana.
Ensinado à Assembléia no Segundo ano de Kangen (i.e., 1244), no terceiro mês, no vigésimo primeiro dia. na Província de Echiza, no Templo Yoshimine.[13]
[1] N. T. – Um “angô” é um período de prática intensiva, de 90 dias ou mais; originalmente realizado na época das chuvas de verão na Índia e, atualmente, realizadas uma, duas ou até três vezes por ano nos mosteiros japoneses.
[2] “Sênior” é taiko (maior do que si mesmo). “Instrutor” é ajari, usado em sânscrito é acharya, qualquer monge sênior qualificado para ter discípulos. No tempo de Dogen, os períodos de treinamentos de três meses eram feitos uma vez por ano, durante o verão. “Dharma” visto no título deste ensaio se refere a “ensinamentos” sobre a atitude adequada diante da prática com outros; mas, eles podem, obviamente denotar as “maneiras” e, até, a “etiqueta” para os encontros com sêniors.
[3] No Soto Zen moderno, o okesa é normalmente usado sobre o ombro esquerdo, como é feito pelos monges Buddhistas. Quando na outorga da ordenação o durante a cerimônia de arrependimento, o monge que preside a cerimônia usa o okesa sobre os dois ombros. [NT: o uso do okesa sobre os dois ombros significa estar representando o próprio Buddha]. “Sênior” aqui e em alguns outros lugares deste ensaio é jôza, o que parece ser usado intercambiado com taiko. [NT: no Soto Zen moderno, o termo jôza é usado para referir-se a um noviço que ainda não foi shuso e ainda não realizou o combate de darma.]
[4] NT – Sem estar em Shasshu
[5] O “Dharma de Serviço ao seu Mestre” é um texto tanto atribuído aos Ancestrais Indianos como a outros textos que têm o mesmo nome por Daoxuan.
[6] NT – No japâo, as paredes divisórias internas nas casas de construção tradicional são de papel.
[7] “Honorável Mestre” é sonshuku (anciãos veneráveis)
[8] As instruções para se entrar nos quartos de seniores nos lembra das instruções para entrar no salão dos monges. Veja o terceiro parágrafo de “O Dharma para Receber Alimentos”. (Fushuku Hanpô)
[9] “Escada de convidados e de anfitrião” não está claro. Pode ser que se refira aos lados esquerdo e direito das escadas que dão em um quarto de sênior.
[10] “Doador” é danotsu, derivado do sânscrito danapati. Dana, generosidade, é a primeira das seis perfeições no Buddhismo Mahayana. É o sistema de manutenção (patrocínio) para Templos Buddhistas Japoneses, desde o século dezessete, chamado de danka.
[11] (NT: os assentos para o zazen (tan) ficavam numa altura de mais ou menos 80 cm do chão).
[12] “Suprema realização” é gokuka (resultado final), que se refere ao fruto da prática e é igual ao estado de buddha.
[13] Templo Yoshimine é um pequeno templo perto de Eiheiji, onde a comunidade de Dogen permaneceu por volta de um ano enquanto se construía o Eiheiji.
Tradução: Pedro Federsoni, Sanga Águas da Compaixão
Revisão: Monja Isshin, janeiro, 2009
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