As Raízes do Romantismo Budista (7)

As Raízes do Romantismo Budista
por
Thanissaro Bhikkhu

Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Parte 6

Parte 7 (de 8 )

A doença de base espiritual.

A psicologia romântico/humanista afirma que a raíz do sofrimento é um sentimento de self dividido, que não só cria barreiras interiores – entre razão e emoção, corpo e mente, ego e sombra – mas também barreiras externas, separando-nos uns dos outros, da natureza e do cosmos como um todo. O dharma, no entanto, ensina que a essência do sofrimento é o apego, e que a forma mais básica de apego é a auto-identificação, independentemente do senso de self ser finito ou infinito, fluído ou estático, unitário ou não.

A cura espiritual bem-sucedida. A psicologia romântico/humanista sustenta que uma cura total e final é inatingível. Em vez disso, a cura é um processo contínuo de integração pessoal. A pessoa iluminada é marcada por um sentido ampliado e fluído de si, do self, livre de rigidez moral. Guiado principalmente pelo que sente que é certo no contexto de interconexão, a pessoa iluminada negocia com facilidade, como um dançarino, os papéis e os ritmos da vida. Tendo aprendido a resposta criativa para a pergunta: “Qual é a minha verdadeira identidade?”, o indivíduo está livre da necessidade de certezas sobre qualquer dos outros mistérios da vida.

O dharma, no entanto, ensina que o Despertar total alcança a cura total, a abertura para o incondicionado além do tempo e espaço, e neste ponto a terefa está realizada. A pessoa desperta segue então um caminho “que não pode ser rastreado”, mas é incapaz de transgredir os princípios básicos da moralidade. Essa pessoa percebe que a pergunta, “Qual é a minha verdadeira identidade?” foi mal formulada, e conhece – por experiência direta – a liberação total do tempo e do espaço que acontecerá no momento da morte.

Quando essas duas tradições são comparados ponto por ponto, é óbvio que – a partir da perspectiva do Budismo clássico – a psicologia romantica/humanística fornece apenas uma visão parcial e limitada das potencialidades da prática espiritual.Isso significa que o Romantismo Budista, na tradução do dharma em princípios Românticos, dá apenas uma visão parcial e limitada do que o Budismo tem a oferecer.

Agora, para muitas pessoas, estas limitações não importam, porque elas vêm ao Romantismo Budista por motivos enraizados mais no presente do que no passado. A sociedade moderna está hoje ainda mais esquizofrênica do que qualquer coisa que os Românticos tenham conhecido. Essa situação nos tornou mais e mais dependentes de círculos mais e mais vastos de pessoas, porém mantendo a maior parte dessas dependências ocultas. Nossa alimentação e vestuário vêm do mercado, mas como eles chegaram lá, ou quem é responsável por garantir um fornecimento contínuo, não sabemos. Quando os repórteres investigativos rastreiam a rede de conexões que vai do campo até o produto final em nossas mãos, os fatos postos à nu parecem uma espécie de denúncia. Nossas camisetas, por exemplo, vêm de tecidos de algodão do Uzbequistão preparados no Irã, costurados na Coréia do Sul e armazenadas no Kentucky – uma rede instável de interdependências que envolve sofrimento, tanto para os produtores quanto para aqueles mantidos fora da rede de produção por causa do trabalho barato.

Sabendo ou não destes detalhes, nós intuitivamente sentimos a fragmentação e incerteza criados por todo o sistema. Assim, muitos de nós temos uma necessidade de um sentido de totalidade. Para aqueles que se beneficiam das dependências ocultas da vida moderna, um corolário necessário é o sentido de tranqüilidade de que a interligação é confiável e benigna ou, se ainda não benigna, que são viáveis reformas que possam fazê-lo daquela maneira. Essas pessoas querem escutar que podem depositar a sua confiança no princípio da interconexão, com segurança, sem medo de que este princípio possa reverter contra elas ou puxá-las para baixo. Quando o Romantismo Budista dialoga com essas necessidades, ele abre o portão para as áreas do dharma que podem ajudar muitas pessoas a encontrar o consolo que estão procurando. Ao fazê-lo, reforça o trabalho de psicoterapia, o que pode explicar por que muitos psicoterapeutas adotaram a prática do darma para suas próprias necessidades e de seus pacientes, e por que alguns se tornaram eles mesmos professores de darma.

(a continuar)

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