Refeição como Disciplina Espiritual (Lições do Tenzo Kyôkun) – 6

Refeição como Disciplina Espiritual
Lições do Tenzo Kyôkun – 6 (final)
por Tatsuzen Satô
Prof. da Faculdade Junior Ikuei, Japão

Texto introdutório: Repensando o Alimento
Parte 1: O Caminho do homem que cozinha
Parte 2: Os Efeitos espirituais do cozinhar
Parte 3: Lavando o Arroz, Lavando o Coração
Parte 4: Arranjo e Procedimento
Parte 5: Discriminação para a Comida

CZ-11-1[6] Respeitar a Comida
Quando eu era criança e deixava restos de comida na tigela sempre levava bronca. Me lembro disso até hoje e nunca deixo sobras de arroz quando como. É importante ter cuidado ao colocar a mistura no prato. Tem pessoas que compram o que gostam e deixam restos de comida que acabam indo fora. Nunca devemos jogar comida fora.

A tarefa do tenzo é manusear a comida com todo cuidado, analisando as condições e checando os pontos relevantes. É necessário ajustar o volume de comida com a quantidade de pessoas na Sala de Treino. O tenzo deve pensar bem para não errar na contagem, consultando os vários responsáveis. Mas não é só o número de pessoas que deve ser considerado. Deve-se levar em conta a situação individual de cada pessoa. Cada um tem um tipo de estrutura física, uma idade diferente. A quantidade de comida que cada um come é, portanto, diferente. Pode até ser a mesma pessoa, mas dependendo da estação do ano, das suas condições de saúde e trabalho, às vezes o volume de consumo de alimento aumenta ou diminui. Desta maneira o tenzo checa todos os detalhes e se certifica da quantidade necessária. A atividade do tenzo nunca é uma atividade automática.

É preciso manter a concentração para não deixar faltar comida. Se houver erro na estimativa de pessoas, ocorrendo assim insuficiência de comida, isso revela falta de respeito para com a pessoa que se alimenta. Por outro lado, se sobrar comida, é falta de consideração para com a comida.

Hoje em dia as pessoas estão mais práticas. Ninguém consegue trabalhar direito tendo de imaginar cada pessoa em sua mente. Fala-se de eficiência de trabalho, calculando a quantidade média de comida para cada pessoa. Com a abundância de comida na sociedade atual, é aceito deixar sobras e jogar o resto da comida fora. As pessoas pensam que tudo é garantido. Não se fala na importância da comida na sociedade atual.

Outra coisa difícil de transmitir é a sinceridade de quem prepara a comida. Com o coração de tenzo na hora de preparar a comida, ajustar o tempero pode melhorar até mesmo o estado de saúde das pessoas que se alimentam. É com essa transmissão de energia que acontece o verdadeiro relacionamento. Assim, poderá haver verdadeira satisfação mútua. Com a atitude de colocar com dedicação todo o coração no relacionamento entre a comida e a pessoa que se alimenta, a comida se torna símbolo desse respeito. O trabalho final é colocar o coração do tenzo na comida. Dessa forma, pensando prioritariamente na pessoa que se alimenta e aplicando a energia espiritual com a vida da comida, acontece a manifestação do tenzo.

Na infância fomos ensinados a juntar as mãos antes e depois das refeições para agradecermos. Hoje em dia, nos restaurantes e shopping centers, não se vê ninguém agradecendo pela comida. E o cozinheiro que trabalha arduamente na cozinha do restaurante não tem tempo para pensar no valor da comida.

É uma pena que o ato de comer ficou no mesmo nível que o ato de pôr gasolina no carro. Na verdade, a refeição não é só para encher a barriga. É para preencher o vazio do coração. Se pudermos perceber isso, na hora de prepararmos a comida e nos alimentarmos, não vamos esquecer de respeitar a comida. A pessoa que come a comida que concede a vida, respeita com gratidão o coração da pessoa que preparou a comida.

A pessoa que prepara, ao pensar nos ingredientes da comida, respeita o coração de expectativa de felicidade da pessoa que come.

E com esse relacionamento de respeito nasce um coração de cooperação humana.

Verso das Cinco Contemplações
(Gokan no ge)

Antes da refeição, juntando as palmas das mãos, com um coração de gratidão vamos recitar o “Verso das Cinco Contemplações.”

(1) Refletimos sobre o esforço que nos trouxe esta comida e como ela veio até nós.
(2) Refletimos sobre nossa virtude e prática e se somos dignos desta oferta.
(3) Consideramos a cobiça como obstáculo para a liberdade da mente.
(4) Consideramos esta refeição como remédio para sustentar nossa vida.
(5) Para atingir a iluminação, recebemos agora esta comida.

Tatsuzen Satô nasceu em 1948 na Província de Gunma. Atualmente é professor da Universidade Ikuei. Serve como Sacerdote Principal Adjunto em Jôsen-ji (Cidade de Gunma, Província de Gunma). Escreveu muitos livros significativos sobre a cultura gastronômica e educação infantil do ponto de vista do Budismo.

– Adaptado de texto publicado na revista Caminho Zen, Vol. 11, No. 1-2006

5 Respostas to “Refeição como Disciplina Espiritual (Lições do Tenzo Kyôkun) – 6”

  1. Repensando o Alimento « Sanga Soto Zen Budista Águas da Compaixão Says:

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  5. Reivax Argen Says:

    O Tenzo Pila Arroz: Louvamos a raiz; Louvando a Claridade da Vida (Tienshin)

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