Kangin
A Leitura dos Sutras
Dogen Zenji
Shôbôgenzô
Na prática e iluminação do despertar perfeito e supremo, usamos às vezes o ensinamento de um mestre, às vezes o ensinamento nos sutras. “Mestre” é o inteiro ser dos Budas e Patriarcas; “sutras” é o inteiro ser dos sutras. Logo, temos o ser de todos os sutras. “Ser” não tem identidade limitada – é visão ativa iluminada, e punhos vivos. Lembrar, ler, cantar, copiar, receber e possuir os sutras compõem o conjunto de prática e iluminação dos Budas e Patriarcas.
Mas é difícil encontrar os sutras budistas. No mundo inteiro raramente se ouve o nome dos sutras. Mesmo entre Budas, Patriarcas e seus descendentes é difícil ouvir só o nome. Se você não for Buda ou Patriarca não pode ver, ouvir, ler, cantar ou compreender os sutras.
Estudar aos poucos Budas e Patriarcas nos capacita a estudar os sutras. Então, as faculdades de ouvir, ver, gostar, cheirar e compreender a inteireza de corpo e mente realizam o ouvir, receber, possuir, explicar, e etc. dos sutras. Quem só procura fama ou expõe doutrinas de ímpios jamais pode praticar os sutras budistas. Transmitidos por árvores e pedras, tais sutras ficaram conhecidos dos campos de arroz aos povoados. Eles foram proclamados em toda parte, pelos reinos da terra e no universo inteiro.
Fazia muito tempo que o Grande Mestre Yakusan Kudo não dava um sermão do Darma. O secretário-geral do mosteiro pediu, “Todos os monges estão esperando para ouvir seus ensinamentos de compaixão”. Yakusan respondeu, “Bata o gongo e convoque a assembléia.” Isto feito, Yakusan entrou no Salão do Darma, sentou-se, ficou em silêncio por um bom momento, levantou-se e voltou aos seus aposentos. O secretário-geral veio atrás dele, dizendo, “Mas o senhor concordou em falar e está saindo sem dizer uma só palavra. Por que?” Yakusan disse, “Os sutras têm professores de sutras e as doutrinas do abidarma têm os estudiosos do abidarma. Por que ficar surpreso com a ação deste velho monge?”
Yakusan quis dizer que punhos têm mestres de punhos e visão iluminada tem mestres de visão iluminada. Porém, o secretário-geral devia ter dito, “Não fiquei surpreso com a sua ação. Aliás, que tipo de mestre é o senhor?”
Certa vez, Hotatsu, monge cuja ocupação principal era cantar continuamente o Sutra do Lotus, foi ver o Patriarca Daikan (Eno) do Monte Sokei em Choshu. O Patriarca recitou este verso:
“Se a mente está iludida, o Sutra do Lotus nos gira.
Se a mente está iluminada, giramos o Sutra do Lotus.
Por mais que cantemos, se não esclarecermos o ser
Palavras e letras vão obstruir a essência.
Pensamento sem pensar é verdadeiro.
Pensamento consciente é falso.
Abandone existência e não-existência
E vá sempre no carro-de-boi branco (Caminho de Buda).”
Assim, se a mente está iludida, o Sutra do Lotus nos gira; se a mente está iluminada, nós o giramos; e se transcendermos ilusão e iluminação, aí o Sutra do Lotus gira o Sutra do Lotus.
Ao ouvir este verso, Hotatsu ficou tão feliz que recitou seu próprio verso:
“Passei a vida cantando sutras
E agora um verso de Sokei me fez esquecê-los todos.
Sem esclarecer a emergência de Sakiamuni neste mundo
Não podemos ser liberados da transmigração.
Há ovelhas, cervos e carros-de-boi;
Começo, meio e fim estão cheios de coisas boas.
Quem sabe que dentro desta casa em chamas (o corpo)
Encontra-se o reino do Darma original?”
Então o Patriarca disse, “De agora em diante você é o monge que memorizou os sutras.”
Precisamos saber que há um monge desses no Caminho Budista. É isto que o antigo Buda Sokei mostrou diretamente. “Memorizar” não é consciência nem inconsciência, nem existência ou não-existência. Através de kalpas sem fim devemos continuar e memorizar os sutras dia e noite; de sutra a sutra, não há nada a não ser sutras.
Prajnatara, o vigésimo-sétimo Patriarca da Índia Oriental foi convidado pelo rei para uma refeição. O rei lhe perguntou, “Todo mundo está proclamando uma profusão de sutras, menos você. Por quê?” Prajnatara disse, “Perdoe minhas pobres palavras, mas eu diria assim: Quando eu expiro a minha respiração não é afetada nem por eventos nem por condições; quando eu inspiro eu não lido no mundo de formas condicionadas. Continuamente, eu proclamo o sutra da talidade; ele tem milhões e milhões de volumes, não apenas um ou dois.”
Prajnatara plantou as sementes (do Zen) na Índia Oriental. Ele foi o vigésimo-sétimo Patriarca descendente de Mahakasyapa. Ele transmitiu os pertences dos Budas – as cabeças, os olhos iluminados, os punhos, as narinas, os bastões, as tijelas, os mantos, os ossos, tutano, tudo deles. Ele é nosso Patriarca e nós somos seus descendentes. A essência da frase de Prajnatara é que não apenas sua respiração não é afetada por condições externas, tampouco as condições externas são afetadas. Condições externas como cabeça e olhos, corpo e mente não são afetadas por condições externas.
“Não afetadas” aqui significa “totalmente afetadas” (numa identidade de opostos). Embora respiração exalada seja condição externa, ela não é afetada por condições externas. Embora o significado de inalar e exalar, antes desconhecido, tenha assim permanecido por kalpas incontáveis, agora ele foi revelado pela primeira vez através das expressões “não lidar no mundo da forma” e “não afetado por condições externas.” Em condições externas temos a oportunidade de estudar “inalar”. Esta ocasião não existe no passado ou futuro mas no presente exterior.
O mundo da forma condicionada é o dos cinco skandas: forma, percepção, idealização, volição e consciência. Não lide nos cinco skandas. Você está num mundo onde os cinco skandas não aparecem. O principal aqui é que os sutras declamados não sejam apenas um ou dois mas milhões e milhões. “Milhões e milhões” é um número enorme mas também tem outro significado. Uma respiração na qual não tocamos o mundo de forma condicionada contém milhões de volumes. Contudo, isso não é nem uma grande quantidade de sabedoria nem um estado de liberdade. Isso transcende a posse ou não-posse de conhecimento e sabedoria. É simplesmente a prática e iluminação dos Budas e Patriarcas, na pele, carne, os ossos, tutano, olhos iluminados, punhos, cabeça, narinas, bastões e espanta-moscas deles.
Certa vez o Grande Mestre Shinsai recebeu o pedido de uma velha devota que tinha feito volumosa doação, para que lesse o Tripitaka inteiro. Joshu desceu do seu assento e caminhou em torno dele uma vez. Então, disse ao mensageiro da velha, “Acabei de ler o Tripitaka.” O mensageiro voltou e contou à mulher o que tinha acontecido. Ela disse, “Pedi a ele que lesse todo o Tripitaka. Por que ele leu só a metade?”
Agora podemos ver claramente que tanto o Tripitaka inteiro quanto a metade do Tripitaka são os três sutras (os três veículos) da velha. “Acabei de ler o Tripitaka” é a compreensão que Joshu tem dos sutras. Em geral, ler o Tripitaka é Joshu andar em torno do assento e o assento andar em torno de Joshu. Joshu anda em torno de Joshu; o assento anda em torno do assento. Ainda assim, a leitura do Tripitaka não é apenas andar em torno do assento, e nem o assento anda de roda.
Há outro caso parecido. Grande Mestre Jinsho, cujo nome no Darma era Hosshin, foi discípulo do Grande Mestre Daiê de Chokeiji. Certa vez uma velha discípula fez uma doação e pediu-lhe que lesse o Tripitaka completo. Daisai se levantou, caminhou em torno do assento e disse ao mensageiro da mulher, “Acabei de ler o Tripitaka.” O mensageiro voltou, contou o que tinha acontecido e a velha disse, “Pedi a ele que lesse todo o Tripitaka. Por que ele leu só a metade?”
Neste caso, não devemos estudar a caminhada de Daisai em torno do assento nem a do assento em torno de Daisai. Ele não estava tentando mostrar o punho perfeito (de Buda) e a visão iluminada. O círculo dele era o círculo do mundo do Darma. No entanto, a velha tinha capacidade de compreendê-lo ou não? “Ele leu só a metade” não basta, ainda que ela o tenha transmitido do seu mestre. Ela deveria ter dito, em vez disso, “Pedi a ele que lesse todo o Tripitaka. Por que ele desceu tão prontamente do assento?” Ainda que tivesse dito isto sem pensar, ela seria uma possuidora de visão iluminada.
Certa vez um ministro convidou o Patriarca Tozan para uma refeição. Feita a doação, o ministro pediu a Tozan que lesse o Tripitaka. Tozan desceu do assento e inclinou-se diante do ministro. O ministro devolveu o cumprimento. Aí, Tozan levou o ministro para dar uma volta em torno do assento. Tozan inclinou-se outra vez, esperou um momento, e perguntou, “Você compreende?” O ministro respondeu, “Não, não compreendo.” Tozan disse, “Eu lhe li o Tripitaka. Por que não compreende?”
O significado de “Eu lhe li o Tripitaka” deve ser claro. Não devemos aprender que andar em volta do assento é ler o Tripitaka, nem devemos aprender que ler o Tripitaka é igual a andar em torno do assento. Devemos ouvir atentamente as palavras do Patriarca.
Uma vez, quando meu finado mestre, um Buda antigo, vivia no Monte Tendo um peregrino da Coréia veio fazer uma oferenda e pedir a todos os monges que recitassem alguns sutras para ele. Meu mestre contou o caso acima sobre Tozan. Terminada a narrativa, meu mestre desenhou um círculo no ar com seu espanta-moscas, “Hoje eu li o Tripitaka para você”, disse, e jogando no chão o espanta-moscas saiu da sala.
Deveríamos examinar com cuidado as ações do meu finado mestre. Elas são incomparáveis. Quando leu o Tripitaka ele usou um olho brilhante ou só meio? Precisamos esclarecer a maneira pela qual Tozan e meu mestre usaram visão iluminada e língua de Buda.
O Patriarca Yakusan Kudo não costumava permitir leitura de sutra. Um dia, no entanto, um monge o encontrou diante de um livro aberto. O monge disse, “Mas, se o senhor não nos permite ler os sutras, por que está lendo sutras.” “Estava precisando de alguma coisa para descansar os olhos.” E o monge: “Quer dizer que eu posso usar a mesma desculpa?” O mestre respondeu, “Se você olhar para os sutras vai furar um buraco na capa de couro.”
O significado de “Estava precisando de alguma coisa para descansar os olhos” é que Yakusan tornou-se o próprio objeto. Isto significa abandonar visão iluminada, abandonar os sutras. O olho está obstruído e torna-se o olho obstruído. Há uma obstrução ativa atrás do olho; adicionamos mais uma pele à pele que cobre o olho. Com “obstrução” podemos iluminar o olho e vice-versa. Logo, se não for o sutra da visão iluminada não podemos obter o mérito inerente ao olho obstruído. “Furar um buraco na capa de couro” significa que a vaca inteira é couro. O couro, a carne, os ossos, o tutano, a cabeça, os chifres e as narinas formam suas funções vitais. Quando aprendemos sobre o mestre a vaca vira visão iluminada. É isto que significa repousar os olhos nalgum objeto. Aqui, visão iluminada transforma-se na vaca.
O Mestre Zen Yabu Dosen disse, “Venerar todos os incontáveis Budas nos dá imensa alegria. Mas isso vale mais do que ler os antigos ensinamentos? Os sutras são sinais pretos em papel branco. Abra os olhos e olhe para eles!”
Devemos saber que venerar os Budas antigos e ler os ensinamentos antigos tem a mesma virtude e felicidade. Não há felicidade e virtude além disso. “Ensinamentos antigos” significa sinais pretos em papel branco, mas quem conhece realmente os ensinamentos antigos? Precisamos estudar este princípio cuidadosamente.
Uma vez, um dos monges do Grande Mestre Kokaku do Monte Ungo estava lendo um sutra no seu quarto. O mestre chamou pela janela, “Que sutra você está lendo?” O monge respondeu, “O Sutra Vimalakirti-nirdesa.” O mestre disse, “Eu não perguntei sobre o sutra que você tem nas mãos. Que sutra você está lendo?” O monge foi repentinamente iluminado.
O “Que sutra você está lendo?” de Kokaku transcende tempo e é extremamente profundo; não pode ser posto em palavras. É como encontrar uma cobra venenosa na estrada; aí emerge a questão central do sutra. Sempre que encontrarmos um mestre seremos capazes de explicar o Sutra Vimalakirti sem erro.
De maneira geral, a leitura dos sutras deve basear-se no método usado por todos os Budas e Patriarcas. Eles usam sua visão iluminada. Naquele momento todos os Budas e Patriarcas se tornam Budas; eles eles proclamam o Darma e Buda. Se você não ler os sutras assim, você nunca verá a cabeça ou face dos Budas e Patriarcas.
Nas comunidades atuais dos Budas e Patriarcas há muitas ocasiões de leitura de sutras. Lêem-se sutras para o benefício de todos os seres quando um praticante leigo solicita, há recitações diárias regulares, recitações individuais de monges mais aplicados, etc. Há também um tipo de canto especial para o funeral de um monge.
Quando um praticante leigo vem ao templo e pede aos monges que cantem os sutras, o procedimento é o seguinte: Depois do desjejum o monge chefe levanta uma placa em frente do mosteiro e do aposento dos monges anunciando a recitação. Um pano usado para prostrações é estendido diante da estátua de Manjusri. Na hora certa o gongo do mosteiro é batido, uma sequência ou três sequências, conforme a instrução do condutor da cerimônia. Quando soa o gongo, o condutor conduz todos os outros ao salão e eles sentam-se de frente. Todos devem estar usando o kesa. Em seguida entra o abade, faz uma reverência diante da estátua de Manjusri, e toma o seu lugar. Então, os ajudantes trazem os sutras, que devem ser preparados de antemão e organizados corretamente no seu invólucro.
Os sutras devem ser trazidos numa caixa especial ou numa bandeja. Todos os monges, segurando os sutras com reverência, começam a cantar. Então, o mestre-de-visitas conduz ao salão o praticante leigo, que deve trazer consigo um queimador de incenso colocado com antecedência pelo monge assistente à porta do templo. O sinal para entrar é dado pelo mestre-de-visitas. A entrada é feita pelo lado sul, o mestre-de-visitas à frente e o visitante atrás. Este oferece incenso à estátua de Manjusri e faz três prostrações enquanto segura o porta-incenso. Durante as prostrações do praticante leigo o mestre-de-visitas fica de pé no canto de cima do pano de prostração, virado para o sul com as mãos cruzadas sobre o peito. Quando termina suas prostrações o leigo vira-se para a direita e, de frente para a abade, faz uma saudação. O abade permanece sentado, pega o sutra e faz um gashô. Então o visitante dirige uma saudação para o lado norte. Em seguida, ele caminha em torno da sala, a partir do assento do abade. O mestre-de-visitas conduz o giro. Mais uma vez o praticante leigo, diante da imagem de Manjusri, ainda segurando o porta-incenso, faz uma saudação. Enquanto isso o mestre-de-visitas fica de pé na entrada, virado para o norte, com as mãos cruzadas no peito.
Depois de fazer a saudação a Manjusri o visitante segue o mestre-de-visitas para fora do mosteiro e caminha uma vez em torno dele. Ele entra novamente, faz três prostrações para Manjusri, dirige-se ao assento que lhe é indicado e acompanha a leitura dos sutras. Seu assento deve ser ou ao lado do pilar à esquerda de Manjusri, ou ao lado do pilar do lado sul de frente para o norte. Depois que o praticante leigo senta-se o mestre-de-visitas faz uma reverência e senta-se também. Algumas vezes um monge canta enquanto o visitante caminha em torno do mosteiro. Este monge deve sentar-se à esquerda ou à direita de Manjusri, conforme a circunstância. Apenas incenso da mais alta qualidade, como jinko ou senko, deve ser ofertado. O incenso deve ser preparado pelo leigo. Quando este caminha em torno do mosteiro todos os monges devem manter as mãos palma em palma, em gashô.
Em seguida, faz-se a oferenda. A quantidade ou tipo de doação depende do praticante. Às vezes oferecem-se leques, algodão, coisas assim. O praticante leigo pode fazer a oferenda ele mesmo, ou isso pode ser feito pelo secretário-geral ou um monge assistente. A oferenda deve ser colocada diante dos monges e não entregue a eles diretamente. Todos os monges devem fazer gashô quando a oferenda é feita. (Às vezes a doação é trazida antes da refeição da manhã. Neste caso bate-se na placa de avisos e o monge chefe entra com a doação. O mérito da oferenda do praticante leigo deve ser anotado por escrito e colocado na coluna à esquerda de Manjusri.)
Quando os sutras são cantados no mosteiro isso deve ser feito numa voz baixa, e não alta. Às vezes os sutras não são cantados em voz alta, são simplesmente abertos para que os monges olhem a escrita. Neste caso, geralmente usamos sutras como o Sutra do Diamante, vários capítulos do Sutra do Lotus, ou o Sutra da Luz Dourada (Suvarnaprabhasa-sutra, sânscrito), etc. Uma grande quantidade desses sutras deve ser mantida no mosteiro.
Cada monge dve ter sua própria cópia. Terminada a recitação os sutras devem ser postos numa caixa ou bandeja especial carregada por um ou dois monges. Neste momento, os monges devem fazer gashô e recitar as orações finais em voz baixa.
Se os sutras devem ser recitados fora do mosteiro o secretário-geral pode fazer o papel do praticante leigo, da maneira acima descrita, para lidar com o incenso, fazer as prostrações, caminhar e arranjar a doação. Ele deve segurar o porta-incenso da maneira indicada. Um monge também pode pedir que os sutras sejam lidos. Neste caso, ele age da mesma maneira que o praticante leigo.
No aniversário do imperador, os procedimentos para leitura dos sutras são os seguintes (a leitura deve começar um mês antes do aniversário): se o aniversário for, por exemplo, em quinze de janeiro, a leitura dos sutras deve começar em quinze de dezembro. Nesse dia não há sermão do Darma. Diante da imagem de Shakiamuni, no Salão de Buda, constroem-se duas plataformas de frente para o leste e correndo do norte para o sul. Entre as duas plataformas coloca-se uma prateleira para os sutras. Nela coloca-se um sutra, como o Sutra do Diamante, o Sutra Nino (Ninnô), o Sutra do Lotus, ou o Sutra da Rei Suprema da Luz Dourada (Suvarna Prabhavasottama-raja Sutra). Todos os dias alguma pequena especialidade deve ser servida a todos os monges: uma massa, uma sopa, ou um doce. O doce deve ser colocado em tijela com palitos, não com colher. Coma-o enquanto os sutras estão sendo cantados e não leve para nenhum outro lugar. A comida deve ser colocada ao lado dos sutras, sem necessidade de uma mesa especial. Terminada a degustaçao todos os monges devem ir ao lavatório e gargarejar. Em seguida, retornam aos seus assentos respectivos e começam a ler os sutras. Devem ler continuamente, da refeição da manhã ao meio-dia. Quando o tambor soar três vezes é o anúncio da refeição do meio-dia, que marca o fim da leitura de sutra naquele dia.
Desde o primeiro dia uma placa amarela anunciando a celebração do aniversário do imperador deve ser colocada a leste das calhas na frente do Salão de Buda ou na coluna leste dentro do Salão. O nome do abade deve estar escrito num pedacinho de papel vermelho ou branco junto com o ano, o mês e o dia da celebração. A leitura dos sutras deve continuar assim até o dia do aniversário do imperador. O abade então faz o sermão do Darma para marcar a celebração. Este é um costume antigo, que todos seguem.
Às vezes, algum monge especialmente aplicado deseja ler os sutras por iniciativa própria. Todo templo deve ter uma sala especial, onde os interessados na leitura de sutras devem ir. Para esse tipo de leitura, siga as regras anotadas no Shingi [Regras e procedimentos monásticos].
Certa vez, o Grande Mestre Yakusan Kudo perguntou ao noviço Ko, “O que é mais proveitoso, ler os sutras ou estudar com um mestre?” Ko disse, “Nem ler sutras nem estudar com um mestre tem qualquer valor.” Yakusan disse, “Você está bem afiado. Mas se nada disso tem valor, como a iluminação pode ser alcançada?” Ko disse, “Não quero dizer que ninguém pode alcançá-la, mas nem os sutras nem os ensinamentos de um mestre podem oferecer a essência.”
Alguns aceitam a essência dos ensinamentos dos Budas e Patriarcas, outros não. No entanto, ler os sutras e estudar sob a direção de um mestre nada mais é que as atividades diárias dos Budas e Patriarcas.
Dito aos monges em Koshohorinji, Uji, Yamashiro, em 15 de setembro de 1241. Transcrito em 8 de julho de 1245, por Ejo.
(Capítulo 30 do Shobogenzo, Olho e Tesouro da Verdadeira Lei, edição traduzida por Kosen Nishiyama, Tokyo, 1988)
– Tradução de José Fonseca
– Revisão de Monja Isshin
março 22, 2009 às 3:43 pm
Monja Isshin,
Confesso-lhe com humildade que me debrucei sobre esse ensinamento de Mestre Dogen : “A leitura dos Sutras” e me soou quase incompreensível. Talvez não seja o caso de se ter uma compreensão intelectual, mas poderíamos conversar mais sobre ele. Que tal formarmos um grupo de estudos e analisarmos parágrafo por parágrafo. Percebo que há muito a se aprender. Há algum livro de um mestre contemporâneo que estude tal texto?
O terceiro texto sobre “Os oito aspectos da iluminação” são mais simples de se compreender. E de colocar ou pelo menos tentar praticá-los.
Muito obrigado.
Gassho.
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