Buda, neste Sutra, nos ensina a importância da Amizade Espiritual. Precisamos estar atentos para poder discernir quem é o verdadeiro Amigo Espiritual, porque este tipo de amizade não pode ser confundida com a amizade mundana, nem com a falsa amizade espiritual.
O verdadeiro Amigo Espiritual nos ajuda a manter os Preceitos Budistas e a crescer em Sabedoria e Compaixão. Ele pode usar remédios suaves quando é possivel, mas se for necessário, usará remédios amargos. Temos que saber reconhece-lo e agradecer-lhe quando nos oferece o remédio amargo de que precisamos. Nestes momentos temos que poder perceber e resistir a raiva que surge de nosso ego ferido. Podem até surgir pensamentos de abandonar a sanga, ou de desejar que a pessoa – que agiu como verdadeiro Amigo Espiritual – seja afastada do grupo. É nestes momentos que podemos escolher entre refletir sobre a mensagem amarga que recebemos ou cair na tentação de agir baseado nos nossos desejos de “matar” o mensageiro.
Quanto ao “falso amigo espiritual”, é provável que ajude a alimentar nossa vaidade, orgulho e narcisismo, mas o que de fato está fazendo é nos empurrar e nos afundar cada vez mais no ego condicionado e nas ilusões condicionadas do samsara.
Finalmente, o amigo mundano ouve nossas queixas, reclamações e apoia nossa raiva. Ele nos oferece conforto, mas deixa de nos ajudar a manter os Preceitos, e a crescer em nossa prática.
Quando a Sanga é formada por verdadeiros Amigos Espirituais, os praticantes encontram apoio para realizar profundas auto-transformações.
Infelizmente, muitos grupos confundem Amizade Espiritual com amizade mundana: são apenas “clubes de meditadores”, e não verdadeiros centros de prática budista. Podem ser até grupos bastante harmoniosos em suas atividades, mas não chegam a formar sangas verdadeiras.
Sanga, ou “comunidade de praticantes”, ou “assembléia de Amigos Espirituais” é algo muito sutil: um dos Três Tesouros dos Budismo.
Vamos nos empenhar em aprofundar a prática, e a nossa compreensão do Darma, para que possamos ser verdadeiros Amigos Espirituais.
Upaddha Sutta – Metade (da Vida Santa)
Samyutta Nikaya XLV.2
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Assim ouvi. Em certa ocasião, o Abençoado estava entre os Sakyas numa cidade denominada Nagaraka. Então, o venerável Ananda foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo sentou a um lado e disse:
“Venerável senhor, isto é metade da vida santa, ter pessoas admiráveis como bons amigos, companheiros e camaradas.” [1]
“Não diga isso, Ananda. Não diga isso, Ananda. Isso é toda a vida santa, Ananda, isto é, ter pessoas admiráveis como bons amigos, companheiros e camaradas. Quando um bhikkhu tem pessoas admiráveis como bons amigos, companheiros e camaradas, é de se esperar que ele desenvolva e se dedique ao nobre caminho óctuplo.
“E como, Ananda, um bhikkhu, que tem pessoas admiráveis como bons amigos, companheiros e camaradas, desenvolve e se dedica ao nobre caminho óctuplo? Aqui, Ananda, um bhikkhu desenvolve o entendimento correto, que tem por base o afastamento, o desapego e a cessação, que amadurece no abandono.[2] Ele desenvolve o pensamento correto … linguagem correta … ação correta … modo de vida correto … esforço correto … atenção plena correta … concentração correta, que tem por base o afastamento, o desapego, a cessação, que amadurece no abandono. Assim é como um bhikkhu, que tem pessoas admiráveis como bons amigos, companheiros e camaradas, desenvolve e se dedica ao nobre caminho óctuplo.
“E seguindo esse método, Ananda, também é possível compreender como toda a vida santa é ter pessoas admiráveis como bons amigos, companheiros e camaradas: é contando comigo como um bom amigo que os seres sujeitos ao nascimento se libertam do nascimento, que os seres sujeitos ao envelhecimento se libertam do envelhecimento, que os seres sujeitos à morte se libertam da morte, que os seres sujeitos à tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero se libertam da tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero. Seguindo esse método, Ananda, é possível compreender como toda a vida santa é ter pessoas admiráveis como bons amigos, companheiros e camaradas.”
Notas:
[1] Kalyanamittata kalyanasahayata kalyanasampavankata. Os três são sinônimos.
[2] O afastamento, (viveka), pode ser de cinco tipos: (i) em relação a um aspecto em particular (temporário, através da prática de insight); (ii) através da supressão (temporário, ao alcançar os jhanas); (iii) através da erradicação (permanente, através do caminho supramundano); (iv) através do apaziguamento ( permanente, através do fruto do caminho supramundano); (v) através da escapatória (permanente, em Nibbana). A mesma explicação se aplica ao desapego, (viraga), e à cessação, (nirodha). O abandono se refere ao abandono das contaminações. [Retorma]
fonte: Acesso ao Insight
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